A Era das Cruzadas

A Era das Cruzadas
Contam que sua primeira aparição como patrono do nosso povo deveu-se aos instantes rogos de Ricardo Coração de Leão, durante a campanha na Palestina; e isto, como veremos, veio muito a propósito para uma nova Inglaterra, que haveria de ter um novo santo

A Era das Cruzadas

Um tanto por acaso, começou o último capítulo pelo nome de Santo Eduardo; calha muito bem a este começar pelo de São Jorge.
Contam que sua primeira aparição como patrono do nosso povo deveu-se aos instantes rogos de Ricardo Coração de Leão, durante a campanha na Palestina; e isto, como veremos, veio muito a propósito para uma nova Inglaterra, que haveria de ter um novo santo. Os confessores sempre foram presença marcante na história inglesa, enquanto São Jorge – apesar de sua participação no martirológio romano – parece não fazer parte de história alguma. Se desejamos compreender a maior e mais nobre das revoluções humanas, só conseguiremos vislumbrá-la à condição de aceitar o paradoxo que representa o enorme progresso e esclarecimento de sua passagem da crônica para o romance.

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2 Resultados

  1. PAulo P Souza disse:

    Mas é um tremendo erro histórico considerar que as Cruzadas interessam apenas à nata da sociedade, para quem a heraldica era arte e a cavalaria etiqueta. A Primeira Cruzada foi sobretudo um unânime levante popular, muito mais do que aquilo que alguns chamam de revoltas e revoluções. As guildas, o grande regime democrático da época, sempre se valeu de seu crescente poder para engrossar as fileiras da causa da Cruz, mas isto é assunto para mais tarde.
    Muitas vezes não era apenas uma leva de homens, mas um comboio de famílias inteiras, como novos ciganos movendo-se em direção ao oriente. Tornou-se proverbial as crianças que de própria iniciativa planejavam cruzadas como hoje em dia planejam charadas. Talvez se encararmos as Cruzadas como se fossem feitas por crianças contemplemos melhor o fato. Encontravam-se as Cruzadas repletas de tudo o que o mundo moderno confere só às crianças, uma vez que o aniquilou totalmente nos homens. Como os mais rudes vestígios de sua arte mais tosca, suas vidas estavam cheias daquele algo mais que enxergávamos através da janela da creche. Pode-se ver melhor este algo mais, por exemplo, nos interiores de Memling coalhados de rótulas e grades, mas ele é onipresente na arte mais antiga e inconsciente da época, que domesticava terras distantes e traçava horizontes em casa. Os recantos das casinholas faziam as vezes dos precipícios do mundo e das franjas do céu.
    Consideram-na uma perspectiva rude e alucinada, mas é uma perspectiva; não era como a insipidez decorativa do orientalismo. Numa palavra, seu mundo, como o da criança, está cheio de rascunhos, na tentativa de descobrir o atalho para o país das fadas. Seus mapas eram mais instigantes que suas pinturas. Seus animais meio fantásticos são monstros, e ainda assim bichinhos de estimação.
    É impossível traduzir em palavras esta atmosfera pujante, pois constituía-se tanto em atmosfera quanto em aventura. Justamente tais visões alienígenas foram as que se tornaram habituais a todos; em comparação os reais concílios e querelas feudais já não eram tão próximos. A Terra Sagrada estava muito mais perto da casa do homem comum que de Westminster, e incomensuravelmente mais perto que de Runymede. Fornecer a lista dos parlamentos e reis ingleses, sem abrir um parêntese a este prodigioso momento de transfiguração religiosa na vida quotidiana, é a inversão da religião e dos séculos, qual uma interpretação moderníssima que convencesse, com dificuldades, um fanático pelo assunto.
    É como se um escritor clericalista ou realista desse a lista dos arcebispos de Paris de 1750 a 1850, comentando que um morreu de sarampo, outro de velhice, aqueloutro num curioso acidente por decapitação, e ao longo de todo o relatório nunca mencionasse a natureza, ou mesmo o nome, da Revolução Francesa.

  2. Seabra Oliver disse:

    AS ORDENS
    Colhidos pelo profundo fervor religioso que percorreu a Europa toda, muitos nobres se alistaram nestas organizações para desenvolver tarefas de caridade e outras necessárias. Estes grupos foram a base das ordens militares com forte espírito religioso e criaram seus próprios Estatutos; os recursos financeiros eram produto de seus próprios membros ou de doações de peregrinos, monarcas ou mercadores agradecidos pela proteção recebida, ou ainda de bens conquistados no campo de batalha ou de crentes que esperavam assim receber a graça divina. Com o tempo estas Ordens convertem-se em poderosos grupos, tanto econômicos, militares e políticos.
    As Ordens tinham várias características comuns sendo interessante analisar:
    Militar-religioso: Participando de uma campanha bélica como as Cruzadas, seus membros eram militares com forte espírito religioso.
    Nobres: Muitos eram membros da nobreza que, naquela época era regida pelo direito de primogenitura, que cedia ao primeiro filho a totalidade dos bens como legítimo e único sucessor, fazendo que muitos nobres ficassem sem terras por não serem primogênitos. Como as Cruzadas davam a oportunidade de conquista de terras, esses nobres deserdados tornaram-se combatentes, unindo-se aos exércitos ou nas Ordens.
    Espírito cavalheiresco: Muitos participantes quiseram imitar as aventuras e façanhas que os combatentes de origem nobre tiveram nas lutas em favor da fé e do Ocidente, relatadas e exageradas pelos poetas populares.
    Reconhecimento do Papa: Para fortalecer este apoio militar, necessário para o sucesso das Cruzadas, e manter o controle destas organizações, a Santa Sé estabeleceu o reconhecimento delas mediante um Concílio onde era apresentado um Regimento ou Regra, normalmente preparada por um pensador religioso que passava a ser o Patrono da Ordem.
    As Ordens assim formadas foram muitas, sendo a primeira a Ordem dos Hospitaleiros, fundada em 1113 e organizada conforme a regra de Santo Agostinho. Posteriormente surgiram a Ordem dos Cavalheiros Teutônicos, dos Cavalheiros de Alcântara, de São João de Jerusalém, de Calatrava, de Avis, a Ordem dos Templários, etc. A atuações foram diferentes se comparadas entre si, mas todas sempre se situaram dentro do contexto militar-religioso e contribuíram para criar as melhores tradições da cavalaria medieval.
    Agora poderemos começar na história dos Templários, uma história oculta, com seus rituais de iniciação, seus símbolos, seus tesouros desaparecidos e sua missão em benefício da humanidade, aliás, tão importante que fez o historiador Vítor Michelet afirmar no seu livro "Segredos da Cavalaria" que, a queda da Ordem dos Templários foi o maior cataclismo da civilização do Ocidente.
    OS TEMPLÁRIOS
    Em 1108 reinava na França Luiz o Gordo desde 1108, e na Inglaterra o rei era Henrique I, desde 1106. A Península Ibérica fora invadida pelos Almorávidas, que já eram donos de Sevilha e Zaragoza e a I Cruzada do Papa Urbano II tinha criado es Estados Latinos do Oriente.
    Hughes de Payns, um cavalheiro francês nascido aproximadamente em 1080, participante da I Cruzada, onde conhece Godefroy de Bouillon e desenvolve a idéia humanitária de cuidar da via de peregrinação que ia de Jafa à Jerusalém, o que lhe permitiria ficar no Templo, localizado no mesmo lugar onde foi construído séculos atrás o Templo de Salomão. Hughes de Payns viaja até Jerusalém acompanhado de 8 cavalheiros e apresenta-se ao Rei Balduíno II, primo de Godefroy de Bouillon, que aceita seu projeto e cede-lhes uma construção usada como mesquita, encostada ao Templo; por este motivo passam a ser conhecidos como os Cavalheiros do Templo, pese que tinham solicitado seu reconhecimento oficial como "Milícia de Cristo". Entre os 9 cavalheiros encontrava-se um tio de São Bernardo, santo que foi uma das mais esclarecidas inteligências da Igreja, e Hughes de Champagne que, após a primeira viagem, entrou em contato com um abade que se dedicou ao estudo de textos sagrados escritos em hebraico. Hughes de Champagne retorna à Terra Santa e na sua volta constrói a Abadia de Clairvaux para que o seu amigo abade, que já estava acompanhado de mais 12 monges, continue o estudo dos textos em hebraico antigo.
    Desde 1119 até 1128 Balduíno II enfrenta uma terrível pressão militar da parte de seus inimigos orientais, turcos, egípcios, grupos de muçulmanos, etc., enquanto os noves cavalheiros destinados a proteger a estrada peregrina, permanecem dentro do Templo, aparentemente sem atividade militar nenhuma. Será que eles procuravam o Santo Graal, aquele cálice sagrado que a lenda nos fala esteve nas mãos de Abraão, Melquisedec, Moisés, a Rainha de Sabá, o Rei Salomão, Jesus na última ceia, José de Arimatéia, que recolheu nele o sangue de Jesus na cruz?
    Será que eles procuravam a Arca da Aliança com as Tábuas da Lei, que segundo autores eram um conjunto de livros da mais elevada sabedoria, em poder dos sacerdotes egípcios, e que Moisés apropriou-se deles para servir de guia no desenvolvimento de seu povo?

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